Precisamos falar sobre Cabrália (Paulista, não a do Cabral)

 Olha só, gente. A gente queria mesmo era falar de outra coisa. Mas Cabrália tem dessas: certos assuntos não morrem, só ficam dando voltas. Tipo cachorro correndo atrás do próprio rabo. E hoje, de novo, estamos aqui falando da palavra que muita gestão pública parece pronunciar com urticária: acessibilidade.

Porque, vamos lá, não é como se a prefeitura estivesse descobrindo o tema agora. Já teve episódio anterior, com direito a decisão judicial, puxão de orelha e tudo mais. A gente pensa: agora vai, né? Aprenderam. Que nada. Ilusão nossa.

Dessa vez, o show foi com rampas. Isso mesmo, rampas. Aquelas estruturas simples, inclinadinhas, que servem pra garantir que quem tem dificuldade de locomoção consiga transitar com dignidade. Pois bem: conseguiram transformar isso numa armadilha. Malfeitas, tortas, mal localizadas. Mais parecidas com obstáculos de corrida do que com estrutura de apoio.

E aí você se pergunta: como é possível errar de novo no que já foi avisado? Como é que depois de levar um "olha lá, faz direito" da Justiça, ainda voltam com mais um serviço feito com preguiça? Fica aquele clima estranho no ar. Porque parece birra. Como se dissessem: ah, é? Exigiram? Então tá aqui, do nosso jeito. Coincidência? Pode ser. Mas é uma coincidência que fede.

E antes que alguém diga que isso tudo gira em torno de uma única pessoa, calma lá. O mundo não gira em torno de Jairo. Mas também não é possível ignorar que alguém — que todo mundo na cidade sabe quem é — precisou mover céu, terra e processo judicial pra garantir o básico. E depois disso, tudo começou a sair atravessado. Não dá pra fingir que não tem recado nas entrelinhas.

Só que o problema é que o recado bate em quem não tem nada a ver com isso. Prejudica o idoso que precisa de apoio, a mãe que empurra o carrinho, a pessoa com deficiência que transforma o simples ato de sair de casa numa maratona diária. Porque o erro nunca cai só em cima de quem denuncia. Ele espalha. E vira efeito dominó de descaso.

O que parece, no fim das contas, é que acessibilidade virou favorecimento, luxo ou birra de processo na cabeça de quem devia só cumprir a lei. Porque, spoiler: acessibilidade não é favor, não é mimo, não é vaidade. É direito. Está na lei. Está na Constituição. E mais: está no senso básico de civilidade.

Mas, claro, enquanto isso, energia e verba são direcionadas para festas, fotos, palanques e figurinhas repetidas. O essencial que lute. E segue o jogo. Torto, mas segue.

Cabrália, com todo respeito, precisa lembrar que governar não é escolher pra quem. É pra todos. Especialmente pra quem mais precisa. Não é só pra foto com faixa de inauguração. É pra quem vive o asfalto quente, o degrau torto, a calçada hostil.

Fica o recado. E, com ele, a esperança — cansada, mas viva — de que um dia a ficha caia. De verdade. E do lado certo.

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