Ainda me lembro...
A pequenina era uma rosa forte, e nossas trocas de palavras eram como passeios entre flores. Não havia espinhos para me ferir, mas eu tinha cuidado com as pétalas. E, mesmo sendo persistente, uma muralha de esperança, com a força de mil mulheres, ela também precisava de cuidados. Precisamos ser atentos com as palavras, na maneira como nos entregamos à amizade e no ato de amar uma rosa.
Todos deveriam ver no que a pequenina rosa se transformou. Lembro-me de ouvi-la em seus momentos mais delicados, cabisbaixa. Mas, em minutos, ela ria. No dia seguinte, parecia mais florescente do que antes. De onde vinha aquela alegria, aquela força? Eu sabia que não era das minhas palavras. Era dela mesma. Sempre foi ela quem se levantava, quem sorria. E, até o momento em que escrevo, se algumas palavras que disse a ela fizeram diferença, não eram invencionices. Eram adjetivos que a pertenciam, qualidades que ela demonstrava. São essas qualidades que, muitas vezes, revelamos sem perceber. Até em momentos tristes, podemos demonstrar beleza, como ela fazia e eu sei que ainda faz. Não preciso estar ao lado dela para saber que quem a adora, quem a ama, enxerga esse brilho de humanidade, essa arte feita pela fé. Tudo o que posso dizer a essas pessoas é: como as invejo! Um dia elas vão perceber o privilégio que têm. Eu reconheço o privilégio que tive em vê-la em seus momentos mais delicados e também em seus momentos de alegria, ao vê-la doar todo o amor que tinha para dar. Tive o encanto de vê-la sorrir, de ouvir sua voz, de presenciar seu amor por outras pessoas.
Ela nunca me considerou seu único amigo ou anjo, e isso me trazia alegria. Havia outras almas ímpares em sua vida, outras pessoas para amar e ser amada. Dias atrás, passei por um susto. Imaginei que poderia perder o sorriso dela, aquele que guardo na memória. Mas, ao abrir o computador, me deparei com uma fotografia: o sorriso dela. É uma lembrança que não posso perder, é o que guardo para me lembrar de quem amo. E como disse a ela: nunca deixarei de amá-la, nunca a esquecerei. Sua dor e sua alegria permanecem aqui, guardadas no coração.
Pensei em não mencionar o que vou dizer agora, pois esta carta é sobre ela. Mas é impossível evitar citá-Lo. Nos poucos momentos em que ela falava sobre o amor de Jesus, eu a compreendo muito mais agora. Gostaria que ela soubesse desse amor. Ele é também o meu Esposo, o amor da minha vida. Eu sou a casa onde Ele habita. As palavras bonitas que falei a ela e a tantas outras moradas, minhas cartas e o amor que demonstrei: tudo era Ele. Se a amei, não foi sozinho. Amei com Cristo, por Cristo e em Cristo. É o único amor que conheço e distribuo. E, no ato de escrever, é esse amor que transborda e se manifesta. É pela graça que escrevo como escrevo, e é assim que encontro palavras para dizer o quanto amo e o quanto amei.
Há dons que pertencem a mim e a ela. Um deles é a expressão pela arte. Perdi as poucas artes que ela me mostrou, mas guardo os traços na memória. Espero, no fundo, que ela ainda cultive seus passatempos ou que tenha encontrado outros igualmente encantadores. Esses momentos sempre me trouxeram alegria, pois sou apaixonado por desenhos, pinturas, esculturas e animações — coisas que deixei para trás para me dedicar ao que hoje escrevo, enquanto sei que ela lê.
Sempre me pergunto: será que ainda escuta as mesmas músicas? Terá refinado seus gostos, como sempre foi refinada? Recordo-me de compartilhar músicas com ela, de construir playlists dedicadas a ela. Lembro-me das canções que a definiam, que refletiam como eu a via. Hoje, sinto nostalgia, mas não sei onde estão essas recordações.
Eu poderia passar horas, dias, meses escrevendo. Mas o que escrevo agora é tudo o que poderia dizer e sentir. Cada palavra surge de uma lembrança nítida ou de um sentimento que reaparece. Poderia escrever poemas com tudo o que foi dito, porque, além de ser uma rosa e um lírio, ela é uma das mais belas poesias que tive a oportunidade de ler e também de escrever.
Finalizo por aqui, se assim desejar. Mas, se querem saber mais dessa história, saibam que ela vive uma nova e bela jornada. Assim como novos capítulos se abrem, um dia todos nós podemos desaparecer em meio a tantas pessoas que surgem e ressurgem, com novas tramas, dramas e alegrias. Minha alegria permanece, assim como a dela nunca deixou de me trazer alegria. Sempre tentei compreendê-la, ser gentil, ser amigo, amar. Mas quem realmente entende o que é ser gentil é a pequenina rosa. Ela é a mulher que sempre me surpreendeu, o livro que não preciso abrir para me encantar outra vez. Seus feitos serão maiores que os meus. Há muitas vidas para ela surpreender e permanecer na memória. Eu não preciso assistir a essa história de frente para saber o que vai acontecer. Eu não preciso estar no futuro. Ainda me lembro.
H.a.a.
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