Jo 15,5

 



 Sim, este texto é escrito por aquele que vos fala e dirigido àqueles que têm o devido interesse em minhas palavras. Alguns podem questionar se os meus escritos realmente vêm de mim. Pois bem, afirmo: é um dom concedido por Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando escrevo sem a intenção de expressar a verdade que me habita, meus textos tornam-se vazios, destituídos do toque da minha alma, melhor dizendo, sem a inspiração do Espírito Santo. Porém, quando minhas palavras são agressivas e prejudiciais, confesso: sou eu mesmo, um pecador que se deixa levar por suas fraquezas. Pois longe de Cristo, o homem se corrompe, e “sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).

Se, contudo, meus textos são inspirados nos santos, explicitamente centrados em Cristo, e causam inquietação em vossa alma, levando-vos a reflexões profundas, talvez seja a graça de Deus agindo. Pois não desejo reconhecimento humano nem a popularidade entre muitos, mas apenas que Deus seja glorificado. Agradeço ao Senhor pelo dom que me concedeu e, enquanto meus braços e mãos puderem se mover, usarei este dom para escrever o que é justo e verdadeiro, sempre em honra e respeito ao nome de Deus. Como disse Santo Agostinho: “Nos fizeste para Ti, Senhor, e o nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em Ti.”

É com grande tristeza que vejo tantas injustiças se espalharem pelo mundo, praticadas por corações endurecidos como rochedos. Muitos parecem irradiar luz, mas na verdade não possuem iluminação alguma. A alma sem Deus se degrada por suas próprias ações, e os corpos que se afastam da graça de Cristo desfazem-se rapidamente. Assim como eu já estive nas trevas, muitos irmãos ainda se encontram nelas. Confesso: quando estive distante de Cristo, Ele não habitava em mim. Por isso, temo acreditar que Deus esteja no coração daqueles que se deleitam na maldade, mas sei que Cristo e os santos lutam incessantemente pela conversão de tais almas.

Há uma guerra invisível travada incessantemente, como nos ensina São Paulo: “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6,12). São Miguel Arcanjo combate os demônios, enquanto no mundo visível vemos os efeitos da impiedade dos impérios terrenos, movidos por ideologias nefastas. Mas a maior batalha está dentro de nós: a luta contra o pecado, a renúncia de si mesmo, dos desejos que degradam a alma e a inclinam para a perdição.

Nosso Senhor chorou por cada um de nós e carregou sobre Si todos os nossos pecados. No Calvário, Cristo viu a vida de todos passar diante de Seus olhos e, mesmo em agonia, orou e perdoou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Muitos perguntam se as dores da humanidade, como as tragédias históricas, superam as dores de Cristo. Mas quem pode medir o sofrimento do Cordeiro Imolado? Ele suportou não apenas a dor física, mas a dor do abandono, a dor de tomar sobre Si o pecado do mundo. E junto d’Ele, a Santíssima Virgem Maria sofreu como nenhuma outra mãe poderia sofrer. Como profetizou Simeão: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,35).

Contudo, Cristo não despreza as nossas dores. Os verdadeiros discípulos de Cristo não desprezam o sofrimento do próximo, mas o assumem e o santificam. “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Quem busca ser exaltado pelo mundo já recebeu sua recompensa, mas aquele que se humilha será exaltado por Deus (cf. Mt 23,12).

A humanidade, em sua vaidade, quer ser como Deus. Busca reconhecimento, deseja ser aplaudida. No entanto, o verdadeiro cristão não busca glória própria, mas sim servir a Deus e ao próximo. Se alguém chora por suas próprias dores, mas nunca derramou lágrimas por um irmão necessitado, que amor é esse? Se alguém se regozija em sua vida confortável enquanto muitos padecem na miséria, onde está Cristo em seu coração? Como dizia São João da Cruz: “No entardecer de nossa vida, seremos julgados pelo amor.”

Há aqueles que lucram através do sofrimento, desperdiçam esses lucros e esbanjam as suas riquezas a custa dos que sofrem; realizam grandes festivais inúteis, promovem a política do “pão e circo”, mas tudo isso fazem para si mesmos, para serem exaltados. "O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram, e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará as vossas carnes como fogo" (Tg 5,3).

Nada disso é por Cristo ou para Cristo, mas para que os homens sejam aplaudidos e adorados. Possuem terras, riquezas e prestígio, mas não para a glória de Deus, e sim para alimentar o próprio ego. Se recebemos graças, mas esquecemos Aquele que nos salvou, que proveito há nisso? "Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mc 8,36).

Tudo o que fizermos deve ser feito em nome de Cristo e para a Sua glória. Se me atacam, não me abalo; se desejam que eu chore, sofra ou me acusem falsamente, isso pouco me afeta. Mas não blasfemem contra Cristo nem manchem Sua imagem apenas porque o servo não os bajula nem busca agradá-los, pois adoro somente ao Pai. Se querem me ferir, que me firam; se buscam um sacrifício, que seja o meu; mas que Cristo seja glorificado.

Antes de mim, muitos deram suas vidas por Ele. Como disse Santo Inácio de Antioquia: "Sou trigo de Deus, e pelos dentes das feras serei moído para me tornar pão puro." Assim também desejo que minha vida, minhas dores e provações sirvam unicamente para engrandecer Cristo!

Que minhas palavras sejam uma oferenda, que minha vida seja um testemunho, e que tudo o que faço seja para maior honra e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina para sempre. Amém!

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