Diário de um católico: confissão de humildade
Talvez minha doce irmã Amy esteja se contorcendo para entender algo que muitos não conseguem: as humilhações que prático por amor a Cristo. O que escreverei não é para convencer ninguém a crer no meu Deus, mas rezo para que conheçam como eu tento conhecer. Esse é um dos maiores mistérios da minha vida, assim como minha alegria e minha sede de viver. A resposta para ambas seria objetiva e curta: Jesus Cristo. No entanto, essa resposta é também profunda, pois não apenas sou alegre, a alegria é minha natureza; não apenas me humilho, a humilhação é minha essência. Como respirar, sem a qual eu morreria.
Minha forma de viver é ser pequeno para poder amar grandemente. Através de pequenos gestos, em obras não vistas por muitos, mas vistas por Cristo. A dificuldade está no fato de que muitos esperam ser amados antes de amar, mas como ser amado sem antes amar? Como esperar respeito sem antes respeitar? Não se deve esperar que o próximo aja primeiro. O respeito se conquista ao respeitar, assim como a humildade não se adquire ao desejar ser humilde ou exigir humildade dos outros. Os verdadeiramente humildes não pensam em sê-lo, eles simplesmente são.
O segredo do erro humano está na busca de ser Deus, na ilusão da própria perfeição. Mas não somos. E isso assusta. Melhorar exige aceitar nossas falhas e erros. Quem diz que devemos "ser apenas nós mesmos" perpetua a mentira de que já somos bons, quando, na verdade, somos chamados a ser melhores. Se minha natureza fosse o ódio, deveria abandoná-lo para amar, pois que desgraça seria a vida se o ódio me dominasse! Nego quem fui e apago todos os vestígios do homem que poderia ter sido.
Muitos buscam a psicologia apenas quando têm a coragem de aceitar que há algo errado em suas mentes. Da mesma forma, o homem que reconhece sua maldade tem chance de mudar, mas aquele que acredita já ser bom está perdido. Quem não vê falhas em si não aceita críticas, pois deseja apenas elogios para alimentar o próprio ego. Na arrogância, muitos entram em relações buscando estar no pedestal, esperando ser compreendidos, mas sem compreender. Esperam que o outro melhore, mas não se dispõem a melhorar.
Quantas vezes ouvi amigos falarem mal de seus familiares sem perceberem o mal que também causavam? Estavam tão ocupados reclamando que não viam as lágrimas de suas mães. E o que faziam por elas? Nada. Eram incapazes de dar a vida por suas mães, mas ofereciam tudo a uma paixão momentânea. Que ironia! Poderiam escrever versos de amor para uma estranha, mas nunca para suas próprias mães.
Eu mesmo fui assim. Quando magoei a mulher que um dia sonhei em desposar, tentei culpá-la, sem sequer perceber o meu próprio egoísmo. Eu esperava algo em troca, mas, de fato, a amei verdadeiramente? Não, pois sem Cristo, o amor se torna vazio e egoísta. O meu amor era frágil, movido por desejos terrenos, sem a verdadeira essência do amor divino.
Busquei o amor em várias formas, mas todas falharam, porque estavam distantes de Cristo. Quando agi, agi sem Ele, e sem Ele, tudo o que fiz foi um reflexo do meu próprio ego, sem a pureza de uma entrega verdadeira. Quantas vezes rezei por ela, ou por outras mulheres que passaram pela minha vida? Poucas, ou talvez nenhuma, porque meu coração estava fechado, incapaz de olhar para elas com a compaixão de Cristo.
O maior ato de amor é a oração, e na ausência dela, vi que o amor terreno se apaga. Não há verdadeira amizade, não há verdadeira união, quando o amor que deveria ser o alicerce é substituído pela vaidade e pelo egoísmo. Como pude desejar mais o corpo do que o espírito de uma mulher? Eu profanei o meu templo e o de várias donzelas, e no momento de suas dores, fui incapaz de consolá-las. Se fosse amor, eu não teria deixado de amar; se fosse amizade, não teria chegado ao fim.
Hoje, meus votos à castidade são mais valiosos que qualquer desejo terreno. Não por uma doença que carrego, mas por Cristo, que transformou minha vida. Com Ele, eu entendo que a verdadeira pureza está no coração, não na ausência do desejo, mas no direcionamento desse desejo para o Pai e para Sua vontade. Cristo é o amor verdadeiro, e é com Ele que posso, finalmente, amar de forma plena e autêntica.
Diante de Deus, quem sou eu? Se não amei minha mãe como deveria, se não fui paciente com meus irmãos, se abandonei Cristo por desejos, por vícios, por uma mulher sem sequer ensiná-Lo a ela? Quem sou eu, se não um miserável? Enxergar tudo isso e buscar mudança é aceitar que sou pequeno. Se tento mudar pelo amor de Cristo, é porque me reconheço um nada. E nada posso ser sem Ele. Neste mundo, já estou morto, nasci morto. Uma doença mortal corre em minhas veias, além do pecado que me assola dia e noite. Já deveria ter sido levado ao inferno, mas pela misericórdia de Deus, aqui estou, vivo. Quando pedi a morte, Ele me deu a vida eterna. Quando me revoltei, Ele me chamou à Sua mesa. Como não me humilhar diante de tão grande amor?
Se queres amar a Deus, faça-o agora, enquanto há vida, enquanto há lágrimas para derramar. Um pobre e miserável como eu, que nada tem neste mundo – sem riquezas, sem títulos – ainda pode buscar a santidade. E que grande graça é saber que Deus me chama a ser santo! O que significa isso para um deficiente que, todas as noites, dorme esperando a morte? Alguém que viu tantos sonhos serem ceifados? Significa tudo.
Alguns dizem: "Só Deus sabe quando partirás" – como se isso significasse que tenho décadas pela frente. Não creio nisso. Deus leva os jovens quando deseja. Se um dia eu for considerado amigo do Pai e Ele decidir me acolher, quem sou eu para questionar? Perto de São Paulo e São Pedro, sou apenas capim que o gado pisa, mas a misericórdia de Deus é maior que minhas palavras. E se Ele me permite viver, então viverei para Ele.
Minha humilhação é simples: Cristo é maior do que eu. Muitos homens e mulheres são maiores do que eu. Se me humilho e aceito minha pequenez, enxergo o que muitos não podem ver. O invisível só é visível aos pequenos e descartados. Se souber amar mais, poderei ser mais humilde. Se enxergar minha miséria, darei esmolas aos que sofrem. Se souber que nada sou, saberei que nada do que possuo importa sem amor. De que valem diplomas, inteligência, reconhecimento, se não amar? Nada levarei desta vida. Nada.
Os que se vangloriam caem em decadência. Os grandes do mundo se sujam na corrupção. Mas não se enganem: não sou bom. Carrego o peso dos pecados que cometi. Não sou um "cadeirante especial". Não sou um ouro fino precioso. Se me chamam assim, deliram. Se busco a santidade, humilharei minha carne até o fim dos tempos. Na presença de Cristo, cairei ao chão, cobrirei meu rosto, pois não sou digno de ser chamado amigo. Não sou digno de ser reconhecido por Jesus Cristo. Mas se, em Sua infinita misericórdia, Ele me chamar, responderei: "Eis-me aqui, Senhor!"
H.a.a.
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