A Sé

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I 

Eles falam com tanta bondade, - "Siga por aquele caminho",
E concedem-me seus conselhos, crendo
Que ouvirei, dócil, cada palavra miserável: "siga nossos passos".
Eu respondo estupefato,
(Há sarcasmo e falsidade em minhas palavras)
E volto-me de costas,
Para viver à minha maneira...

Minha arte é esta:
Escrever desgraçadamente!
Não sigo os passos de ninguém.

Eu existo sem querer,
Assim como rasguei o véu da realidade
Não, não seguirei o mesmo rumo!
Sozinho, trilho o rastro de destruição causado por vós...
A verdade que busco, nenhum de vós encontrou,
Portanto, cesse de insistir na mesmice, falsos felizes.
Escolho pisar no chão mísero da Sé,
Igreja da imundície,
Visto-me de andrajos, rastejo pela cidade corrompida de Tarso (ele choraria),
Sede santos, pois eu sou o santo...

Se existo agora, foi
Apenas para explorar os pecados deste mundo,
E escrever com meus olhos a desgraça desnudada,
Mas nada do que escrevo transforma.

Como posso ser como vós,
Que me concedem dor, solidão e lágrimas,
Para que eu pereça de desgosto?

II

Carregais, em vossas almas, o DNA de nazistas e romanos,
E falsamente vos amais, pois não amais a vós mesmos!
Eu amo o Imaculado e o Impuro,
Amo a psicanálise, os hipócritas, os pecadores...

Ide! Pois possuís tudo que possais imaginar,
Sonho de sonhador: tendes riquezas, tendes amores,
Tendes amigos, tendes "saúde",
E tendes opiniões, imaginação, pensamento,
Só não tendes razão!
De que adianta ter tudo isso se é uma ilusão?
Eu possuo a minha eterna loucura!

Escrevo, como King, porém meu terror é verdadeiro,
Experimento o sangue, a dor crônica, a violência poética do meu país...

Cristo foi morto por vós, não pelas minhas mãos.
Todos tiveram chances de amar, tiveram chances de não matar.
Mas eu sou apenas mais uma vítima desse fardo,
Nasci do amor e morrerei nas mãos dos meus conhecidos.

Eu que não desejo a benevolência de vós,
Não me digais o que fazer!
Não me digais: "segui nossos passos"!
Sou apenas um homem que saiu dos trilhos.
Sou Cristo visto por Cristo.
Sou a semelhança do Cosmo.
Sou Deus.
Não sou como vós.
Não ando convosco.

Apenas sei que sou a eternidade
E vivo pelo verbo "ser."

H.a.a.

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