O inconsciente I

 Em tempos sombrios, em meu âmago abatido,

Jamais encontrei alguém tão ferido,

Enquanto ao meu redor os campeões brilham,

E sonhos vendidos são facilmente atingidos.


Eu, um coxo, por vezes sujo, descrente,

Eu, sem dúvida, um verme,

Talvez vil,

Eu, que sinto ansiedade ao tentar sonhar,

Eu, muitas vezes repugnante, amargo,

Me enrolo nas cobertas, no escuro do meu quarto,

Fui orgulhoso, egoísta, egocêntrico, sórdido, pretensioso, rabugento,

Sofro de hipocrisia e ódio,

E, sem ódio, sou ainda mais covarde.


Eu, que não nasci com o dom do riso, busquei ser Steve Carrel,

Levar alegria e luz às existências que cruzaram meu caminho.

Eu, que não fui agraciado com o dom da profecia, tentei ser Jesus Cristo,

Aliviar as dores que afligem a todos,

Com palavras que carregavam a promessa de dias melhores.

Eu, que não era um revolucionário, ousei ser Che Guevara,

Para libertar os oprimidos e vislumbrar a paz florescer

No coração dos que tanto amo.

Eu, que não era um poeta, busquei ser Edgar Allan Poe,

Para suprir toda a minha dor,

Para ao menos sorrir quando vislumbrar o pôr do sol.


Despojado, sem nada além de livros empoeirados,

A porta do suicídio se abriu, um convite obscuro,

Mas me escondi, enclausurado, amarrado,

Impedido de ceifar minha vida, desventura que perdura.


Nas sombras etéreas, onde minha alma vagueia,

Das pessoas que cruzam meu caminho em melancolia,

Nenhuma testemunha a sinfonia que me rodeia,

Nenhuma conhece minha agonia, meu desespero sombrio.


A solidão profunda, eco maldito e cruel,

Lágrimas silenciosas que ninguém vê derramar,

Nenhum outro coração falha ao amar tão fiel,

Nenhum outro sente a falta de mobilidade a sufocar.


Um copo erguido, peso morto em minhas mãos trêmulas,

Nenhuma outra voz clama por esse vazio persistente,

Nenhuma outra alma aprisionada em suas camas escuras,

Implora por piedade, mas a morte é a única presente.


Oh, como invejo aqueles que nunca encaram tal fado,

Pois em suas batalhas escolhidas, se glorificam com ardor,

Enquanto eu me afundo na escuridão, subjugado,

E encontro meu descanso apenas no reino do horror.


H.a.a.

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