Carta aberta: Aida: O terra, addio

  Apresento a todos um dos textos mais difíceis que escrevi em toda minha vida, em meados de 2023, após meses de longa reflexão e leituras árduas de clássicos da literatura brasileira. Estou publicando no meu blog, pois, neste ano, acabei me perdendo no caminho. Relendo meus textos, este é um dos que me traz ânimo, motivação e coragem para continuar com meus objetivos e não me deixar abater por acontecimentos triviais causados por terceiros para me prejudicar. Desde já, agradeço. Boa leitura e até a próxima!

Aida: O terra, addio

Enfim, empreenderei aquilo que deveras há muito deveria ter realizado, mas somente agora tomo a ação. Desconheço a razão subjacente a esta escrita, pois seria factível prosseguir com estas palavras reclusas no âmago de meu ser e prosseguir na minha jornada sem proferir sequer um termo, uma vez que a quem realmente importará com o curso das minhas decisões? No entanto, optei por acolher o amor pela escrita e não hesitar em expor o que em verdade sinto e sou. Consciente de que, para alguns, tais palavras carecem de importância, quiçá o interesse genuíno seja inexistente, aqui me encontro, despilfarrando minhas forças para algo que como brisa leve, poderia ser lançado ao vento.

As próximas palavras são a minha partida e a razão subjacente à minha ausência, pois resguardam sentido apenas para aqueles que demonstram curiosidade pela minha esfera pessoal, ainda que tal curiosidade seja diminuta. Eis, portanto, tais palavras a seguir.


Paintings by Christian Valdemar Clausen and James Carroll Beckwith

A partir deste ponto, minhas palavras são verazes, releguem ao esquecimento tudo o que ouviram sobre mim. Desmanchem todas as inferências que urdiram, pois tais percepções são meras imposturas. A fim de me reconhecer, carecerão de pura hermenêutica e uma cosmovisão expandida, ou então da tutela de um versado na ciência mental, posto que o rasteiro senso comum causa vexame à minha alma. E basta uma ínfima gota de ignorância para que eu me recolha inteiramente, tornando-me oculto, cujas palavras jamais mais escutarão.

Não almejem indagar acerca do meu estado, mas perscrutem os meandros do meu pensamento e a profundidade que o dito pensamento encerra. Efetivamente, eu me encontro bem ou me enclino a uma plenitude de serenidade, quiçá imerso em um estágio de aprimoramento, e raros serão os momentos em que proclamarei minha lamentável situação ou minha exaustão perante adversidades que aniquilariam meu ímpeto, desnudando-me da melancolia. Em relação à dor, sempre a carrego, seja ela um tormento psíquico ou físico, todavia, as agruras jamais me impediram de sorrir, prosseguindo a tropeçar aonde quer que meu caminho se trace.

Porventura a indagação visa de fato à averiguação do meu bem-estar? E almejam que eu ratifique isso repetidamente, em repetidas ocasiões até o término dos meus dias? Tal fadiga desgastante outorga uma peculiar singularidade à minha alma. Neste momento, desvelo os portais do meu próprio inferno, permitindo que minha natureza se manifeste em sua plenitude, ocasionando, talvez, desconforto aos que me circundam. A percepção que nutre a meu respeito é nulidade, porém, anseio que esteja a par de que sua dor em nada me afeta, e seu sofrimento é exclusivamente seu, sua batalha pessoal, na qual não compartilho desta falsa melancolia, gerada pela mente rasa e inexplorada.

Tempo algum disponho para escutar suas lamentações, nem tampouco me imiscuir no que chama de vida; muito menos investirei na conquista de sua amizade, de sua atenção, pois não me rebaixarei a tais mesquinharias. Ainda me questiono por que me permito ser observado, especialmente por aqueles cuja companhia não ambiciono. E quiçá nossa amizade tenha fenecido, restando-me apenas dissipar o escasso que subsiste, deixando somente o que me atrai para observar, contemplar o desdobrar de suas ações e as tragédias que, porventura, possam se desenrolar.

Todo intelecto que me nutre será manifestado, sem qualquer censura, jamais me desvendarei como não sou. Minhas conversações decantaram-se em tediosas ou me tornarei ainda mais recluso, uma vez que não suportarão a profundidade de minhas expressões, indagações e meu jocoso senso de humor, o qual será desvendado somente àqueles que considero mais íntimos. Para os demais, apenas uma personalidade fleumática se desvelará. A polidez e a empatia que exibo são apenas o que o Cristo anseia que eu conceda, uma benevolência dirigida aos demais, mas amizade, não; isso é reservado a um punhado, e o insignificante transtorno que poderia me ocasionar, espero que se mantenha à distância, recuando o máximo possível, ou experimentará a mais gélida indiferença que um ser humano pode infligir.

Vossa rotina cotidiana, as mesquinharias das fofocas e os assuntos superficiais, mantende-os para vós mesmos. Não mais disponho de tempo para as fúteis divagações humanas, as quais poderiam facilmente ser evitadas. Uma vida na qual a mente detém o leme, porém há muito perdeu a direção. Mas o que posso fazer? O que posso expressar? Não experimento pesar por nenhum desses temas, e por que deveria subjugar-me a ouvir vosso sofrimento? O que mais desejo é manter-me a distância, não interferir, e deixar-me em minha toca, absorto na leitura e no alimento de meus anjos e de minha liberdade.

Neste ponto, cesso minhas derradeiras palavras, pois a contingência do tempo já não me é propícia. Desde este escrito, retiro-me para dedicar-me aos estudos e aos temas que me arrebatam. Obedecerei às diretrizes de meus mestres acadêmicos e jamais relegarei ao olvido os conselhos . Na medida do possível, distanciar-me-ei das redes sociais, recusando-me a responder a alguns de vós, por estar imerso em um empenho de proporções mais elevadas: o conhecimento e o universo do Direito. Uma missão e propósito, outorgados por Deus, norteiam-me.

Minha concentração será devotada à causa marxista, unindo-me a meu inestimado e afável amigo, a quem dedico todos os triunfos que possam advir, posto que sem ele meu anseio e aspiração para o aprimoramento da humanidade, bem como para o estreito mundo que circunda nossos entes queridos, não seriam tão vívidos. As palavras que aqui verto com profundo pesar denotam o término de quaisquer apegos emocionais, uma vez que adentro em níveis mais profundos de investigação, e meu tempo, uma relíquia escassa, não há de ser esbanjado em temas efêmeros e distantes daquilo que, no momento, denomino de realidade.

Solicito-vos que somente me busqueis em situações de relevância, nas quais possa efetivamente prestar auxílio; do contrário, desaconselho qualquer tentativa de contato, haja vista que da minha parte não haverá resposta alguma. Até breve, ou talvez seja um irrevogável adeus!

THE END...

20 de agosto de 2023


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