3 de Dezembro de 2023



Os dias escorrem pelas mãos como água suja, o relógio gira como uma navalha afiada cortando o tempo. Os anos avançam, e eu, acumulando desilusões como cicatrizes, encaro toda essa merda sozinho, despejando o que me faz mal, eliminando o lixo que se acumula na alma. Trabalho em projetos que, aos meus olhos, são como pinturas rabiscadas por um bêbado. Sinto-me regredindo, enquanto o valor do que crio se dissolve na própria essência.

O pior é a sensação de que minhas palavras e construções são inúteis para o mundo lá fora. Não sou uma canção que todos possam ouvir, nem um grande artista. Sou apenas um escriba de minhas próprias desgraças, transformando em arte as merdas que cometi e que o mundo comete comigo. Escrevo textos e poemas melhores que este, mas não consigo erguer muralhas de amizades verdadeiras. As tentativas murcharam, sem laços fortes, como se a maldição da geração fosse a de chorar a solidão através de telas.

A comunicação? Um cadáver, algo enterrado nas entranhas do passado. Por que evitamos a verdade e fugimos dos conflitos? Desaparecer não resolve as mancadas, apenas aprofunda as cicatrizes. Tento ser compassivo, ser alguém decente, mas o retorno é quase nulo. Nada é recíproco, e talvez seja por isso que me encontro praticamente só. Eu não tenho ouvido "eu te amo" ou "sinto sua falta" sinceros, apenas palavras que se alimentam de mim, puro egoísmo disfarçado.

Poderia falar de Deus, mas prefiro falar das pessoas e das merdas que despejam umas sobre as outras. Sem Ele, talvez eu já estivesse morto, não por mim, mas pelos outros, pelos que sugam meu ser. Uma força misteriosa me retém aqui, seja minha alma ou uma criação humana. Algo inexistente às vezes é mais gentil do que a pessoa ao lado que sussurra palavras doces enquanto se alimenta da sua essência.

Não dou nada a ninguém, não tenho dinheiro para ofertar, não distribuo sentimentos falsos. Digo a verdade, mesmo que ela seja um soco no estômago. Talvez me arrependa dessas palavras, mas pouco me importa. Não sou paciente, nem gentil, apenas não me importo. É melhor assim, sem criar confusões, sem mais decepções. Desaparecer da vida de quem quiser, porque, na real, sou o que sou, apareço quando quero, e quando alguém sai da minha vida, é um alívio.

Existe alguém que entende essa dor, esse alguém gentil e praticamente sozinho. Dói vê-lo se aproximar de outros, acreditando que seriam importantes. Talvez meu problema seja acreditar demais nas pessoas, criar expectativas que desmoronam sem aviso. Não permito magoarem esse alguém, mesmo que eu não possa protegê-lo fisicamente. Mataria todos para mantê-lo seguro, uma promessa que nunca quebraria.

Existe uma ciência idiota que mente, fazendo você suportar a merda do sistema, continuando a ser estuprado pelas pessoas, mesmo que você se cure. Estudo a merda errada, justiça, direito, leis. Poucos têm, e menos ainda são aplicáveis para quem realmente precisa. Abandonar companheiros, mergulhar de cabeça em amizades vazias, é pior que lixo. As pessoas solitárias são as mais fiéis, longe das superficialidades que cercam a vida. Enquanto outros se afundam em objetivos inúteis e relações vazias, você enfrenta traumas.

É um desabafo que preciso expulsar.

h.

3 de Dezembro de 2023

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