Postagens

Mostrando postagens de maio, 2025

Precisamos falar sobre Cabrália (Paulista, não a do Cabral)

  Olha só, gente. A gente queria mesmo era falar de outra coisa. Mas Cabrália tem dessas: certos assuntos não morrem, só ficam dando voltas. Tipo cachorro correndo atrás do próprio rabo. E hoje, de novo, estamos aqui falando da palavra que muita gestão pública parece pronunciar com urticária: acessibilidade. Porque, vamos lá, não é como se a prefeitura estivesse descobrindo o tema agora. Já teve episódio anterior, com direito a decisão judicial, puxão de orelha e tudo mais. A gente pensa: agora vai, né? Aprenderam. Que nada. Ilusão nossa. Dessa vez, o show foi com rampas. Isso mesmo, rampas. Aquelas estruturas simples, inclinadinhas, que servem pra garantir que quem tem dificuldade de locomoção consiga transitar com dignidade. Pois bem: conseguiram transformar isso numa armadilha. Malfeitas, tortas, mal localizadas. Mais parecidas com obstáculos de corrida do que com estrutura de apoio. E aí você se pergunta: como é possível errar de novo no que já foi avisado? Como é que depois...

em teus braços

Imagem
uma mãe alimenta com o corpo, com o medo, com o futuro nos braços dela a gente aprende o nome do mundo antes de aprender a dizer o nosso é quente, é forte é prisão que não aprisiona é cuidado que às vezes dói e depois se chama amor mas a tia - ah, a tia é outra coisa a tia não tem lugar certo no coração ela escorrega por entre as regras e inventa novas tia é liberdade com cheiro de bolo quente e doce antes do almoço é arte permitida bagunça autorizada e castigo que nunca chegou a chinela era da mãe mas o sorriso era da tia tia é irmã da mãe mas também irmã da infância é mulher sem útero que gera laços de um jeito tão fundo que só o abraço explica a semana vira saudade o fim de semana vira chegada e a chegada vira colo e o colo vira amor tia ama como mãe e o sobrinho ama como filho sem saber que está amando porque já está e não tem nome que caiba então a gente chama de tia mas sabe - lá dentro no lugar onde não tem palavra é mãe também tia é a...

Quando os sinos não tocam

Imagem
   Não sei mais se os sinos tocaram ou se fui eu que inventei o som para não me sentir tão sozinho. não sei quem fui, nem quem foram os outros. apenas sei que a nostalgia passou. e ficou a saudade como um frio que se cola na pele e não sai nem com o sol do meio-dia. é como o inverno: a gente esquece o dia exato em que ele chegou, mas nunca esquece o que ele fez com o nosso corpo. sempre preferi as despedidas. elas não mentem. a chegada vem bonita mas já vem com prazo de validade. a despedida não. a despedida é a única coisa que dura. um dia me calei. e nunca mais consegui falar do passado sem tremer por dentro. tudo parou. tudo ficou parado em mim. como se as lembranças tivessem sido soterradas por neve. a minha boca se calou porque não havia mais história. não havia mais o que dizer, nem dor para sentir. e eu me culpei por isso. por calar. e me culpo ainda mais por escrever agora. como se as palavras machucassem mais do que o silêncio. peço perdão. pelo que não d...

Testamento de um Filho à Sua Mãe e à Mãe de Deus

Imagem
Mãe, Não escrevo estas palavras para adornar o tempo, mas como quem, à beira da solidão, deixa um vestígio de si antes que o vento apague tudo. Cada sílaba aqui sangra. Não é uma carta, é testamento. E se falo, é porque talvez amanhã o silêncio me tome por inteiro. A humanidade inteira conhece a cruz. Está estampada em paredes, rosários, corpos... mas quantos realmente a contemplam com o coração dilacerado que ela exige? Ficam na estética do símbolo, esquecem que ali suspendeu-se o próprio Deus. E que, aos pés desse madeiro, sangrou com Ele uma mulher. Não uma qualquer. A Mãe. Maria: silente, rasgada por dentro, mas de pé. O mundo desabava em gritos e açoites, e ela permanecia, firme como raiz no invisível. A espada prometida por Simeão transpassava-lhe a alma. No seu olhar, a dor de todas as mães do mundo: das que enterram filhos, das que são esquecidas, das que não têm colo para chorar. Foi ali, no alto do Gólgota, que o Filho, entre o céu e a terra, ofertou-nos a sua Mãe. “Eis aí tu...