O que restou de Madeleine
Todos os dias desperto envolto em um cobertor de melancolia, sentindo aquela sensação melódica, enquanto Erik Satie desperta seu piano ao fundo, atravessando as portas de vidro, rompendo a quarta parede deste cenário teatral escolhido por mim: o Teatro Municipal de São Paulo. Recordo-me da primeira vez que me vi diante desse monumento colossal, embora não tenha adentrado. Parece ser o ambiente condizente com minha natureza. Nasci distante de tudo o que considero vital em minha existência: a música, o teatro, a literatura, mestres que me ensinaram a arte da escrita. Foram os mortos que me instruíram, pois os vivos apenas me apresentaram palavras, sem jamais ensinar-me a utilizá-las. E agora, adulto audaz, compreendo por que jamais me mostraram este mundo fantástico. O que posso dizer sobre os ditos adultos, sempre tecendo mentiras por onde passam, dentro de seus lares, nas esquinas, nos edifícios públicos e talvez até nos consultórios de psicólogos? Em todos os lugares que percorri, a m...